2+2=5

Vazio. De repente o indescritível brota em cinco letras. Uma forma.

O conteúdo, vácuo sustentado em paredes móveis; não podendo ser visto, pego ou engolido, é peça inerte, pedra sem gosto, prumo ou cheiro. Abstração que jaz por trás das letras. Corpo purpúreo onde todo um tudo ganha nome: palavra.

A ilusão da escola tradicional: listar todos os símbolos: deus, 1, 2, 3, 216, um corte donde jorra sangue. Mentiras que todas as crianças aprendem a reconhecer como tal.

O número pi é resultado da divisão do comprimento de uma circunferência por seu diâmetro. O valor do pi: 3,1415926535897932384626433832795028841971693993751058209749445923078164062862089986280348253421170679821480865132823066470938446095505822317253594081284811174502 841027019385211055596446229489549303819644288109756659334461284756482337867831652712019091... Um número infinito, uma seqüencia inconseqüente de algarismos. Por trás da vírgula, nenhum tipo de padrão conseguiu ordenar a cadeia anárquica, de modo que não se pode prever, nem se o cálculo for baseado em bilhões de casas decimais já conhecidas, não se pode prever nunca qual será a próxima letra, ou melhor, o próximo número.

Foda-se toda a ciência. Se três mil anos de matemática não conseguiram amordaçar em sua lógica humanóide a relação de um contorno circular com o maior traço reto que o atravessa, queimem todos os livros com discurso cientificista. E quebrem as pipetas de precisão. Morra o racionalismo. Fechem os hospitais, os hospícios e as cadeias. Queimem os dólares, evitando transformá-los em pílulas indigestamente abortivas.

A clara definição começa a desfigurar-se. Os contornos tornam-se pouco nítidos, até que desaparecem. Os pilares desabam fazendo poeira, que altera ainda mais o ambiente. O túmulo de Descartes arde em chamas, destruindo sua crença naquilo que, nele, crê. Os pretos que cultuam a sua morte transformam-se em um pó. É a cinza. Resultado da queima de todos os deuses, áspero polvilho alimentado de claros e escuros, indistintos.