she's a beauty queen in my sweet bean bag in the street

Tori Amos, artista fragmentado, imposs�vel descrev�-la em um par de palavras, ela n�o cabe ali. Ela n�o cabe ali. Como se cada verso seu fosse um outro de si, condensado em imagens, simbolizado em palavras. Sem falar nos acordes do seu Bosend�rfer, que esses n�o est�o para serem falados. Falam por si, em sua pr�pria linguagem; n�o cabem aqui. Explicar acordes em palavras, viol�ncia brutal, o estupro manifesto em Me and a gun.

Adapta��o, mudan�a de linguagem, o sangue que mancha os len��is de everybody else's girl. No �ltimo filme de Spike Jonze, o roteirista que precisa submeter a um golpe adaptativo um romance sobre orqu�deas. As flores, j� mortas em prosa, v�em-se plantadas no cume de um precip�cio de onde precisam cair, novamente. Flores que pensam e querem, sujeitos que antev�em o seu futuro, a sua morte como flores despeda�adas no fundo do abismo lingu�stico.

O fim pode mudar tudo, � o que diz o mestre ao protagonista. Este se v� aliviado, uma vez que n�o precisa mudar o roteiro j� escrito. � a� que a obra de Jonze ganha a grandeza que a torna espetacular. Pois o filme que vemos � o pr�prio roteiro em produ��o, e portanto n�o � que n�o precise ser mudado; a quest�o � que n�o pode s�-lo: j� transcorreram mais de cem minutos do filme; o roteiro, paralelamente, s� precisa de um desfecho, um fim que ressignifique tudo que j� passou. � o tempo do apr�s-coup, o futuro anterior, a releitura do realmente acontecido pelas palavras daquele que narra. � a adapta��o do significado no significante, o sentimento espremido expresso em palavras.

Adapta��o determinada por um di�logo com um outro. Di�logo a partir do qual Charlie Kaufmann (o roteirista neur�tico) muda os rumos de seu roteiro; nos seus vinte �ltimos minutos, o filme muda completamente: acontecem persegui��es, cenas de uso de drogas e um casal � formado, tudo nos moldes hollywoodianos que o roteirista abominava antes da conversa com McKee (o mago do roteiro hollywoodiano). E as orqu�deas passam finalmente pelo moedor cinematogr�fico quando Charlie ouve de seu g�meo, portador de seu mesmo c�digo gen�tico e por�m t�o bem adaptado: You are what you love, not what loves you.

Uma m�e que morre depois de dizer ao filho I'm so proud of you, o filho que transforma a obsess�o pela m�e em obsess�o por peixes tropicais, espelhos holandeses do s�culo XIX. Chris Cooper, em John Laroche.

Uma cornflake girl, Meryl Streep em Susan Orlean, autora do romance a ser adaptado, The orchid thief. Just a flower, desirelessness p�s-moderna, your hair, so thin, and blonde, a beautiful sadness.

Produ��o de sentido, pagan poetry cinematogr�fica. As flores nunca mais ser�o as mesmas.