catch ou como segurar um instante
Orlan deu o seu corpo � arte. A performer francesa modela no pr�prio corpo, atrav�s de cirurgias transmitidas ao vivo, o ideal est�tico que bem entende. Na R�incarnation de Sainte Orlan, a beleza renascentista. Sete opera��es, e o resultado: o queixo da V�nus de Botticelli, a boca da Europa de Moreau, o nariz da Diana de Fontainebleau, os olhos da Psiqu� de Gerone. Mas o que importa nunca � o resultado; nas performances, quase sempre feitas em museus, Orlan est� sempre acompanhada de um crucifixo, fora outros objetos que servem de cen�rio para a transforma��o do objeto principal: o seu corpo. M�dicos e enfermeiras vestem haute couture e recebem instru��es da artista, que permanece acordada durante toda a opera��o. Uma exposi��o se segue, mostrando a recupera��o, a cicatriza��o das peles, incha�os, hematomas, pontos e gazes.
A performance engole o corpo. O ator e o bailarino (sem falar no m�sico que faz show) precisam incorporar a obra, e essa � a �nica maneira de faz�-la existir. Nas horas, minutos ou segundos enquanto a performance � executada, autor e obra se fundem; � revelada ao p�blico toda a verdade sobre sua condi��o de sujeito-objeto insepar�veis.
O corpo f�sico, ve�culo da materialidade expressiva, mostra-se completamente dominado por uma ordem externa a ele. Serve para dar forma real ao espet�culo. Cortes dolorosos solapam os genes, garantindo a soberania de uma gen�tica outra, uma gen�tica cultural. � o surgimento do Homo aesteticus, manifesta��o do mais devoto romantismo, encarna��o de sua pr�pria arte.