eyes wide shut

Eu escrevo sobre temas mundanos.
Eles escondem-se sob met�foras.
Escrevo sobre mulheres.
Elas projetam-se em folhas mortas: palavras.
Humanas, demasiado humanas.

N�o quero provocar identifica��es.
Eu quero a surpresa de cada frase.
Quero encontrar na folha escrita a �gua que falta �s folhas mortas.
A �gua que procura dos seios nervosos a materialidade da carne.
A carne que vermelha arde de significados.

Escrevo para ningu�m - j� � pedir demais que escreva na l�ngua dos homens.
A l�ngua que me sujeita a ser ela, deixando de ser eu mesmo.
Eu que caio em gotas de sangue sobre a folha escrita.

Escrevo as palavras de outros.
E me aposso delas como se fossem minhas.
J� que cada uma dessas eu a ouvi de outrem.

Escrevo sobre escrever.
N�o h� loucura mais circularmente linear.
N�o h� linhas mais desprovidas de sentido.
Eu quero dois sentidos e mais que uma dire��o.
Setas com origem determinada e fim impreciso.
O presente sem a posse do futuro.

N�o quero interpreta��es.
Quero interpreta��o-constru��o.
Deixo buracos entre os verbos.
Quero que caiam neles e que l� eles se achem a si.
Do fim, o come�o de uma nova frase.