fanciulla gentile
Pernas en dehors. Bastante úteis na leveza forçada do ballet clássico. Trata-se de uma posição descrita basicamente como pés para fora, em oposição a en dedans, para dentro. Acontece que o movimento não envolve só o pé. Se virarmos só os pés para fora, nunca será possivel colocá-los de forma que formem um ângulo de cento e oitenta graus entre si. O movimento tem seu nascimento na altura do quadril. Daí à rotação da coxa para fora. E finalmente pode-se mostrar o calcanhar para o público, numa exibição contorsionista que ganha ares naturais com a prática seguida de um movimento exclusivo de bailarinos. Sim, pois somente pessoas que dançam clássico fazem rotação de coxa. É um gesto completamente inútil, o que ressalta o seu valor estético. A finalidade é nenhuma outra que a impressão de estar na corte de Louis XIV, le Roi-Soleil.
No clássico, cada movimento tem um nome; a única dança em que isso é possível. Tudo começa a partir de cinco posições básicas. Na primeira posição, pernas juntas esticadas, e pés en dehors. Partindo da primeira posição, projeta-se uma perna para frente, mantendo a rotação da coxa e o pé en dehors, apontando para fora; a perna de sustentação fica imóvel, enraizada no chão; a ponta do pé continua no chão até que não seja mais possível mantê-la ali, grudada à superfície; é o limite máximo do petit battement tendu.
O repertório de movimentos mantém-se estático há mais de trezentos anos. Compõe-se de algumas dezenas de intenções, mas essas podem ser combinadas em milhares de possibilidades diferentes. Cada combinação pode receber um nome e uma música e, desse jeito, surgem ballets, coreografias como por exemplo La Sylphide, de Taglioni (1832), O lago dos cisnes, de Resinger (1877) e Giselle, de Gautier (1841). Há-de se dominar perfeitamente as variedades frappé, jeté e tendu do battement, e os tamanhos grand e petit de cada uma delas, até que se possa construir seqüências que levem em conta o tempo de uma música e possam ser consideradas como fluidez coreográfica, passando de exercícios de repetição e constituindo-se em obra de arte.