glam crucifixion

Uma sexta-feira santa de extrema devoção.

Um culto luterano pela manhã. Todos vestidos de preto, luto e melancolia no ar. Olhos introspectos apreciam o espetáculo mórbido da crucificação. Alguém é pregado na cruz enquanto coros em latim de um francês, Gabriel Fauré, apontam signos do luteranismo alemão. I got a bowling ball in my stomach, I got a desert in my mouth. A pregação elogia a grande falta, coloca ratos mortos a secar num pedestal. Ao beber e comer o corpo do que é crucificado, cai-se de uma altura metafórica em direção ao nada original, vazio primeiro e pano de fundo a ser borrado por pigmentos nebulosos multicoloridos. Um cenário expressionista, tudo parecia cenas de Murnau, todas as cores enfurnadas em pretos fechados em glória, convocando a um contato carnal com as mais deslizantes imaterialidades.

Defuntos maquiados à la glam, foi o que vi até a manhã seguinte. À noite, private party para onde me dirijo de carruagem, meus dois cavalos pretos. Uma casa onde os ares do Tâmisa entrava pelos pulmões daqueles que lá se arriscavam a pisar. Como não podia deixar de ser, levo um disquinho com coisas interessantes. As novinhas de Placebo. Myxomatosis e a abertura de Hail to the thief, so sweet. Light and magic, o segundo álbum de um Ladytron mais pesado e das trevas, cabos, laptops e franjas para o lado. Uma gravação ao vivo de suede - she, especialmente preparada para o dono da casa, suedette inveterado. Uma Tori Amos tocando Cure, Aching Heart era o nome da mixagem. Corpos de meninos, meninas, corpinhos andróginos, espalhados numa sala com varanda no décimo-segundo andar. Uma sul-africana que viajou milhares de quilômetros westwards para chegar em Londres. Restos cadavéricos santifica