nós e o cinema - projeto

No início, éramos apenas animais. E reagíamos às chuvas, às pedras, aos trovões. Até que aprendemos a criar. E as chuvas transformaram-se em imagens, onde pedras e trovões compunham uma cena, servindo de palavras sob as quais comunicava-se não a realidade, mas uma realidade. Como uma realidade possível, a arte constituiu uma liberdade humana, demasiado humana, de simbolizar a nossa condição e de propor a nossa transformação sobre a paisagem tempestuosa que nos atravessa.
Hoje somos convocados a resolver uma questão, não de maneira dogmática, mas como se fôssemos pouco a pouco construindo um conhecimento, sempre inacabado, sobre nossa origem, nossa relação com o mundo, sobre nós mesmos. A psicologia propõe uma investigação sobre o humano e feita por humanos. Como se devêssemos nos dobrar sobre nós mesmos, entender aquilo que em nós entende.
Nós chegamos à faculdade e o que vemos são (somos) nós. Nós que nos amarram a conceitos, maneiras de ver, enfim, pequenas grandes criações humanas que ousam querer aproximar-se de um céu menos negro para todos. Ousadia essa que, para que seja possível, não pode se apegar a um simples enquadramento, sob pena de se esvaziar em noções estáticas que não levem em conta a nossa própria transformação, a nossa capacidade de ver a partir de diferentes posições. É aí que insere-se a nossa necessidade de contato com a arte, numa busca constante de referências que enriqueçam e, por que não, estremeçam a nossa própria visão de mundo.
No sentido em que cada obra de arte se constitua de uma visão de mundo diferenciada e inédita, somos levados a escolher o cinema como uma maneira de complementar a nossa formação, de ampliar a nossa investigação a respeito do ser humano e de sua natureza criadora de paradigmas. Iluminação, movimento, atuação, figurino, música e cenário. Linguagens postas à disposição da expressão. Cada filme como uma empreitada metafórica na direção de um entendimento de nossa condição. Não é de se estranhar que o objetivo do cineasta tenha tantas semelhanças com o do estudante da psicologia. Somos todos humanos em busca do melhor ângulo para a próxima cena.

O Diretório Acadêmico da Psicologia propõe, em nome dos alunos da faculdade, um projeto de exibição periódica de filmes. As características do evento, como por exemplo a sua periodicidade, será decidida conforme a demanda apresentada pelos próprios alunos. Nossos planos são os de fazer crescer essa demanda, através de discussões posteriores aos filmes com professores convidados a acrescentar suas opiniões com relação aos temas abordados na obra exposta. Esse projeto nasce assim, como uma idéia a ser moldada no decorrer de seu desenvolvimento, podendo inclusive abarcar outras modalidades artísticas num tempo futuro - se for essa a vontade dos envolvidos. O evento já nasce na dependência de seus expectadores, que vão escolher o filme da sessão seguinte em enquete pública.

(projeto entregue ao diretor do instituto de psicologia da ufrgs, paulo kroeff)
(o primeiro filme exibido será the wall, de alan parker, com comentários do ilustríssimo edson souza, da psicologia social, no dia dezessete, quinta-feira, às dezenove horas e quinze minutos, na sala duzentos e dez do ip, com telão e cadeiras fofinhas)

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