see you at the bitter end

Algo está podre aqui em baixo, o ventre que me encerra fede, e eu sou vítima na prisão modorrenta de suas paredes imundas. English summer rain, nothing ever changes. O novo Placebo saiu. Chama-se Sleeping with ghosts.

Gotas de água, é o que se ouve lá fora. Dentro, uma mistura de fluidos pinga em compassos marcados de dor, guitarras que convidam o ilustre ouvinte a debater-se no chão até sangrarem-lhe as têmporas, e até sujar-se-lhe a roupa, num ajustar de contas com a verdade doente da impossibilidade deslizante que impera no subterrâneo da carne, por trás dos olhos.

A instrumental Bulletproof cupid abre o álbum, pesada, perfeita. Um soco bem forte para acordar das baladinhas imberbes de Black market music, o álbum anterior, fraquíssimo. Hold your breath and count to ten, fall apart and start again. English summer rain traz Brian Molko, a donzela em apuros, tocando bateria. Quem diria, a donzela se aperfeiçoando. This picture nos mostra, então, que a donzela (ok, não vou mais chamá-lo assim), que Molko está com medo de ficar velho. Ótimo sinal. Medos assim fazem muito bem a sua produção artística. O mar evapora, as nuvens explodem no céu; parece estar escrito, mas não se pode ler entre as linhas: Sleeping with ghosts, faixa-título. The bitter end, o primeiro single. Bom. Maravilhoso! Sussurros em Something rotten. Questionamentos estéticos em Plasticine. Special needs leva de volta ao postular Without you I'm nothing, com final avant-garde. Destrutividade decretada em amor narcísico destinado a um outro-parte-de-mim: I'll be yours. Second sight, third verse same as the first. Protect me from what I want, dramática e linda, pianos que soam tempestuosamente frágeis, um tom de hino religioso, sehr gotisch. Mantendo a tradição dos três álbuns anteriores, há uma balada derradeira e mortal, Centrefolds.

Placebo continua sendo uma das minhas bandas favoritas, graças à teatralidade de Sleeping with ghosts, obra pontuada da mais aguda e verossímil tragédia. Salve Molko, Werther de pancake.