when the rain falls

Cai a chuva. Gotas e gotas, e gotas. Aproprio-me delas, e num passe de mágica elas viram outras coisas. Elas umedecem um papel, e lá estáo elas, grudadas e soltas. Contraditas, as gotas se transformam. Em gotas.

Gotas góticas. O céu não pára de chorar. Goth poetry for all. Todos temos um corvo engolido entre gósmicas entranhas. A morte está aí, e é sobre ela que se erguem as mais sublimes esculturas. À vista da arte se morre todas as vezes. Nas curvas da língua, as gotas envenenam a mais séria das individualidades, em nome de um bem maior: a obra. Esta resiste à morte, e fica. E mata àqueles que lhe ousarem cruzar o caminho. E os sangues que espirram do corte profundo inundam os chãos da cidade, e os médicos tentando fechá-lo com suas agulhas cegam-se no vermelho de sua fluidez pegajosa. E o céu respira novos ares. E é a noite que, audaciosa, resume em seu preto - agora - todas as tardes do outono.

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- Não sei. Não vi. Não fui visitar, ela.

Mentira. Como contar a ele que ela tem vivido esses dias todos nos cheiros de uma memória? Que o tempo que passamos juntos a ela foi ela que fundou na pequena amostra que tivemos de sua arte? Que esse tempo vive ainda nas palavras e baforadas de Benson mentolado que, unidas, palavras e fumaças, continuamos respirando? Que tudo o que somos é a poesia pagã escrita nas linhas que nos unem? Forgive us, my dearest scatterheart, for our very own frailty.